quarta-feira, 11 de setembro de 2013

"O SONHO DE UM SERTANEJO"


  Não deixo a vida me levar...levo a vida sonhando.


Vou me embora do sertão pois a vida aqui então ta dura de viver
 secou a água da cacimba de casa também a do pote e da moringa
vou embora vou agora não me ignora que demora aqui não vou fazer
adeus sertão querido vou me embora não vou corrido mas logo volto pra te vê
 tamanha é a seca que aqui  impera que teu filho dessa terra de fome aqui não vai morrer


o pasto ta seco o gado ta magro não vai pro corte e pro sertanejo a sorte leite não da não
da roça  que plantei  dela nem se quer um fruto experimentei tudo a sequidão queimou
espero que na minha volta meu par de olhos possa encantar de cara nova meu sertão
vê  as folhas dos pés de umbu bem  verde gado não magro nem passando cede vê molhado esse chão
vou me embora e vou agora  mas não  me esquecerei  de você meu sertão

como eu não sei o tempo certo de que vou voltar  a  painho por favor peço ao senhor  pra cuidar
do mundé que deixei armado a beira do roçado que por sinal foi mirrado causado pela tal da sequidão
 a Justino meu menino fica pra cuidar  na tarefa de rachar lenha boa de queimar pra senhora sua ia-ia
e também pra fazer companha a minha veia  sua mãe Maria  pra onde ela for por favor o acompanhar
 a mãinha   peço que não fique agoniada  fis promessa pra santa Barbara e aos anjos pra me guardar

eu vou partindo vou andando saudade deixando lembranças levando com os olhos chorando de dor
não sei o que vou encontrar lá na frente só sei que vou deixar minha gente pra aventurar minha sorte
 vou levando na bagagem minha fé muita coragem pra fazer essa viajem pro lugar a onde vou
não dou liga pra quem diga que eu sou analfabeto a onde eu for meu Senhor vai ta por perto com teu amor
e quando eu voltar endinheirado com o trabalho de lá minhas contas vou pagar vão me chamar de doutor

vou trazer uma vitrola um rádio de pilha Motorola um boné bonito escrito o nome do time Palmeiras
vou comprar a fazenda do seu Germano e já estou fazendo plano de mandar irrigar toda a nossa roça
vou construir uma casa bonita e de fora meu povo não fica afinal por sinal nós somos dos Oliveiras
vou trazer de lá tudo que der pra comprar eu não vou perder tempo nesse tempo não vou dar bobeira
aqui vou me despedindo já é tarde então vou indo ta bem longe meu destino desde já to sentindo canseira

meu gibão de couro que ta na casa do velho Louro painho mais tarde pode buscar e se apossar desse traje
meu caçuá de carregar farinha que ta emprestado pro acomodado velho Zequinha mãinha depois vai pegá
minha cartucheira que ta em cima da cristaleira já dei ordem pro seu Junqueira  pegar  até eu volta
e você minha filha Betinha dos filhos a caçulinha não esquece que primeiro cresce pra depois namorar
minha gente querida não chorem assim na minha partida fico tristonho não quero meu sonho vê ofuscar

pela zoada que vem da estrada é da rural do seu Genival que ta fretada destinada rumo a nova rodoviária
ah antes da minha partida a minha égua de corrida pro seu Julho ta vendida ele vem buscar é dele
Vera rainha do lar de mão pura  não vou te deixar deixei  dinheiro no travesseiro pra você e a meninada  adeus minha gente seu Genival com sua rural parou na frente do quintal agora vou seguir estrada
 não sou bem de leitura e nem de escrever mas prometo fazer com gosto e prazer oração pros de casa

pra que tanta buzinada se a viagem nem ta atrasada adeus pessoal  me apressa o Genival ta caducando
Justino avisa ao velho que já to indo só to me despedindo  oferece rapadura pro sem dentadura comer
o que foi seu Genival você ta passando mal ou pifou sua rural pra você tá assim chorando
se o senhor não me falar  não parar de chorar sinto muito mas já está muito me preocupando
mãinha faz uma garapa de açúcar pra vê se  do velho assusta o mal que ele ta passando

quer saber seu Oliveira esse velho que fala contigo que por sinal é teu amigo não chora sem motivo não
eu sou um sujeito que não tem o feito de desmantelá a felicidade de ninguém mas não me couvem se cala
a mãe que te amamentou que seu pai abandonou morreu de morte morrida ta estendida num caixão
 da velha a sentinela não tem flor e nem vela a casa ta cheia de gente bonita e feia só não daqui não
agora você me fala a gente segue a viagem ou aqui mesmo para pois de você preciso saber a decisão

seu Genival não me leva mal e assim todos aqui presente senti de repente desejo de  ir até o meu quarto
sertão sofrido o que tu fez de mau pra tanto castigo não tem pena de mim e ainda enfim me  devora
cade as roças que plantei pra onde foi o sonho que sonhei o que foi que de você ganhei é sério tu enoja
e pra aumentar minha dor minha mãe querida dessa vida Deus levou e por favor não me ignora
hoje eu cancelo o meu sonho de castelo mas saiba disso que não desisto do teu chão sertão ir embora

seu Genival já decidi não vou mais viajar por aqui vou ficar minha mãe vou enterrar  viajo outro dia
 te  convido não imploro a ir com a gente no velório da falecida minha mão que eu sei que me amou
mas o que ta acontecendo o tempo lá fora agora ta escurecendo ou de mais eu to vendo será  livusia
 é não é chuva caindo nunca é tarde é bem-vindo agora ta lindo tendo água a magoa no passado sentia
agora descobri com o som do trovão que ouvi que esse meu sertão querido perder seu filho não queria

me perdoa sertão querido não me deixa esquecer que com chuva ou sem chover não vou te deixar
vou  pegar o afoice a enxada a terra ta molhada a cacimba encharcada acolheita vai ser boa viajar to fora
mas pra quem já viajou que Deus o guarde a onde for e se um dia quiser voltar a terra ta no mesmo lugar
e se tem alguém planejando de mais logo está viajando não to gorando mais é bom para pra pensar
no sertão nasci também cresci hoje aprendi quem corre cansa e de vagar alcança e também vai chegar!



'FIM"


Poema: O sonho de um sertanejo. 

Poeta: Jose severino da silva neto.

Setembro de 2013.

  




































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