"O conto do causo do Zé Mara"
Contar conto de matuto
da gosto de contar o causo
mas o conto que vou contar
o do matuto Zé Mará
não me lembro já ter contado
numa catinga do sertão baiano
vaqueiro bom era o Zé Mará
nas competições das vaquejadas
de olho vendado o Zé acertava
argolinhas dava gosto de nele apostar
o cabra vivia sempre de bom humor
gostava de contar um piada
vivia com dona Serafina
e mais duas meninas
numa fazenda ele morava
estudou nas escolas da vida
se formou na faculdade dos campos
ler e escrever o zé não aprendeu
mas labutar com gado era oficio seu
para vaquejar era requisitado por todos cantos
certa vez na venda de seu Dodo
contava ele uma piada de crente
no descuido não olhou para traz
de repente entrou um rapaz
que era o filho do seu Vicente
o seu Vicente era o pastor
da única igreja evangélica do povoado
o rapaz pediu um pãozinho para o Dodo
tirou o dinheiro do bolço e pagou
e saiu fingiu não ter escutado
por sinal o nome do moço era Zelote
chegando em casa queixou ao pai
mal humorado pois o pão na mesa
e pediu para o pai a gentileza
não mandar ir a quela venda mais
seu Vicente foi até o quarto
e de joelhos no chão passou a orar
depois pegou uma cartucheira antiga
decidido foi para uma briga
de ser crente nem quis lembrar
o Zé quando viu o Vicente vindo armado
ainda fez uma pilera
disse que sábia que o velho era crente
mas que caçador o seu Vicente
não sábia ele que o velho era
o seu Vicente com os olhos esboguelados
feitinhos aos de uma Caboré
entrou na venda mandando o povo se aquetar
que ele tinha algo para falar
especialmente para o Zé
esbravejado e tremendo falou:
-seu Zé Mará você espia suas piadas
sou crente mais não sou bobo
respeite mais o meu povo
para tão cedo não cair na bala.
o velho Vicente só falou isso e foi embora
logo depois que o Vicente foi para sua casa
com sua extripulía de piadista
bastou o velho sair da vista
que o Zé já contou de crente outra piada
com o Zé era bom de se viver
enquanto ele não tomava umas cachaças
pois depois que ele se imbreagava
nem o cão com ele aguentava
o moço ficava muito sem graça
mexia com as mulheres dos outros
podia ser a do prefeito ou a do delegado
o Zé de tanto levar surra
pode crer que a criatura
já tinha o rosto calejado
o seu orgulho era ser vaqueiro
andar vestido com seu gibão
tocar gados pelas capoeiras
com facão desfazer trouxera
vê seu cavalo levantar poeira do chão
não tinha preguiça de acordar bem cedo
para ir tirar leite no curral das vacas
bom dia boa noite boa tarde
era para todos na roça ou na cidade
até para cachorro ele dava
o homem era honesto ótimo cidadão
certa vez seu Ambrósio de dona Amada
não se sabe do que passou mal
o zé socorreu o velho para o hospital
bem tardinha já de madrugada
para a família do Ambrósio o médico desenganou
disse que o velho já viveu o que tinha que viver
a família comprou as vestes e o caixão
mas não é que o ancião
ainda custou muito para morrer
para a desgraça de muitos cachaceiros
que já contava com a morte para ocorpo velar
é que na roça em velório tem comida
como também tem bebida
porque não sei sei que é costume de lá
feitos urubus rodeando carniças
alguns elementos a casa de Ambrósio rodeava
era gente que ia lá rezar
consolo para a família também dar
os cachaceiros também rezava
a reza era mesmo assim:
-Deus que fundou o céu e a terra
Ambrósio já tem muito sofrido
tenha pena desse nosso amigo
descansa o velho e a alma tua leva
como já levou a de João, Maria, Joaquim
meu Senhor por favor eu te imploro
tenha pena da minha desgraça
eu vou morrer se eu não tomar cachaça
então no meu lugar leva o Ambrósio
depois da vez que o Ambrósio passou mal
quinze anos ainda o velho viveu
muitos dos que desejaram sua morte
tiveram primeiro a sorte
de cirrose muito cabra morreu
na sentinela do seu Ambrósio
quase tudo podia acontecer
até veio gente de todo o sertão
de varias religião
rezar para o Zé Mara não beber
todos os bares do povoado foram fechados
decreto do prefeito Matias
na sentinela da quele velho senhor
por sinal um dos seus ex eleitor
ninguém na quela casa bebia
enquanto o morto na sala era velado
o Zé Mara para outra cidade viajava
perguntar para fazer o que
creio que nem preciso dizer
é o que você pensou que ele buscava
na volta para não se perder no caminho
o Zé desídio não dar uma talagada
falou ele mesmo consigo:
em reverência ao falecido
só vou beber na chegada
na sentinela um chora da qui outro de lá
e quem sábia para onde o zé tinha ido
na abstinência desesperado
no oitão da casa ajoelhado
rezava para o zé não ter se perdido
quem via o cabra de joelhos no chão
imaginava que era de saudade do falecido
a família chegava ir da uma batida nas costas
e dizia:-seu moço se conforma
foi melhor ele ter partido
e o de joelhos no chão
de tão ansioso ficou até avermelhado
consigo por dentro falava:
-pelo morto eu já não sinto mais nada
é o Zé que já era para ter chegado
o Zé distante de uma légua
da casa do finado a cachaça escondeu
chegou sério com um pacote de velas na mão
e disse:-vou alumiar mais o caixão
pois o finado foi grande amigo meu!
enquanto a família do Ambrósio chorava
outros nas escondidas abriram o sorriso
pois o Zé para os cabras piscou
num mesmo instante a casa esvaziou
foram para onde o Zé tinha escondido
para não ficarem indo e voltando
decidiram beber toda a cachaça de vez
o Zé quando chegou na sala
já foi falando:-ta vendo esse cabra
vou contar dele o que sei
agora morto faz cara de santo
mas todas as minhas vacas ele conhecia
eu até desconfio
que o mais novo novilho
é ele o pai da cria
e a dona Cadu que fica chorando
com jeito que está com saudade do defunto
não sai da casa do seu Lucimar
creio que nem preciso falar
do que lá fazem o assunto
o povo assombrado pediu para o Zé se calar
comparando o riso com o que o povo chorava
em volta de uma fogueira
o povo deu uma disparadeira
de rir das piadas que o Zé contava
mas quando o prefeito da fogueira se aproximava
os cachaceiros danavam a chorar
mas quando o prefeito de perto saía
o som dos risos deles tão longe ia
que da cidade vizinha dava para escutar
na hora de carregar o caixão
teve briga teve disputa
o prefeito na cabeça sozinho queria carregar
dez vereadores do caixão não queriam largar
vai vendo teve mais me escuta
o Zé antes que o esquife fosse para a cova
fez a seguinte exclamação:
-ir para o céu Ambrósio é o que mais quero
mas pelas coisas que ele fez o inferno
é o destino do finado cidadão!
enterraram o velho e voltaram para o cotidiano
e depois teve muitos que para a família disse: imploro
-quando eu morrer peço a benevolência
de não deixarem chegar ao zé a ciência
como chegou a do velho Ambrósio.
o Zé Mara era bom de guardar segredo
só até enquanto não dava a primeira golada
depois disso era só novidade
além de atualizar o povo da cidade
contava muitas piadas
mas o tempo passou e o Zé ficou bem velhinho
pegou a doença de chaga
e o mal não deixou mais ele andar
mais ainda morrendo deu para falar
para os amigos a última piada
pena que a piada não vou contar
até mesmo porque não sei
só conto o que me conta
tanto que a final de conta
o conto do causo do Zé Mara eu contei !
"fim"
Poema: O conto do causo do Zé Mara.
Poeta: Jose Severino da Silva Neto.
Data: 03/01/2013.